domingo, 1 de março de 2015

A librina

Ali, no distante caminho de questões, me pus a subir os degraus de pedregulhos.
 A névoa refrescando-me a pele, umedecendo-me os pulmões com uma calma fria, recobre as montanhas que me servem de muro.
Lá estou, a observar de longe o verde vivo que desponta no inverno.
Ofegante caminho, extenua as pernas e as juntas, e nele vejo aos poucos o cume de minha estadia.....................
Só, a contemplar as dúvidas sob a tímida luz do astro, tudo se faz claro.
Na descida, ruminando perspectivas, as respostas, entre as pedras, escondidas.
O interior de meu ser: saudade, fato de a tanto tempo não aparecer em si  filosofia.
Verdade frente à Verdade sempre será.

Do esquecer

Lentamente, as idéias flutuam no imaginário, cada preocupação se lança no abismo do esquecimento, as cores ao meu redor ganham vida. Me concentrando na distração, vou, a cada segundo subornando a dor com o desprendimento.

Eli Bacellar, Outubro de 2013

sábado, 11 de outubro de 2014

My Way



Metamorfoseando minhas pernas em pedais, coluna em quadro, guidom e membros, fiz-me maquineta velocíssima, cortei as eiras de espaços entrecortados, sobrevoei os tons sibilantes dos conceitos de um ébrio. Pensei, vi, tudo isso que me aconteceu.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Desdenha a escala de Mohs



Tudo é muito, lentes de aumento tem redimensionando as faces do mundo. 
O fio de seda que sustenta os estados, às vezes, tenciona e rebenta. 
As bruscas transformações da mente mergulhando em dualidades. A dureza da cerviz, mineral qual diamante, desdenha a escala de Mohs, por decrescer ao talco em catarse.

Pó, poeira, entre os dedos dum artífice. Virou pó, o orgulho impávido do granito, estilhaçado por um martelo, que sem pestanejar lhe pergunta, agora, pela glória de sua personalidade.

Ah, o exagero das coisas, ah essa mentalidade confusa, ah! E esse medo de que ver as coisas como realmente são não permitirá subsistência.

Há que ser intenso, há que ser único, há que ser insondável, imprescritível, irreconciliável, incognoscível, as cartas de um baralho, os delírios do meu tio, há que ter as futilidades dos Sampaio, há que ser impossível.

Que pode-se existir dentro dos padrões duma cartilha burra, ou em um dos lados do maniqueísmo, que seja a efervescência da água que borbulha  ou a gelidez da inconsciência.

Ah que ser sempre assim, de rompantes em rompantes tomando carona nas ondas do absurdo. Tendo a ignorância dos urbanos por arrogância e, a mesma por sabedoria nos nativos. E com pouco isto tudo vai me matando, e o tédio me é por terrorismo, e se não mato e como, sei que também não vivo. E só vejo mesmo as pedras do caminho passando, e a paisagem se transformando no caminho, e minha mente indo ao encontro do mato, e minhas pernas me mostrando que estou vivo, e os cortes nas canelas ardendo junto aos passos, e, o caminho, e o caminho, caminho.

ESBacellar

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Tabacaria

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Nota - Manifesto do surrealismo - André Breton



É até mesmo permitido

intitular POEMA o que se obtém pela agregação tão gratuita quanto possível

(observemos, faz favor, a sintaxe) de títulos e fragmentos de títulos recortados

dos jornais:


POEMA




Uma risada




de safira na ilha de Ceilão




As mais belas palhas




Têm a cor esmaecida

Na prisão



quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Bucólico

Este meu ser bucólico, tem ojeriza aos podres frutos das cidades; tange-me falas que pregam contra o anti-ócio. Quer, acima de tudo existir no campo, sem os malditos sons de sirenes, alardeadas pelos malditos "cops".
Vive-se aqui, em cadeias, olhando sempre por entre grades, são arames, câmeras, fotos; definitivamente odeio este Big Brother.
Odeio o som maligno das propagandas, e as criaturas que meneiam badeirolas, ao som de "jingles" pedem os meus votos. 
Ah! Quero mesmo correr deste marasmo, e me afastar ao máximo de seres ignóbeis, quero o campo com todas as estrelas, as constelações do cosmos longe das muralhas, do opróbio.
Não me conformo com nada deste presídio. O alimento, companhias, nem dos banhos de sol. Deus me fez livre, filho do vento com as estrelas, o som dos pintainhos no imenso arrebol.

Já dizia A. Campos:



“ (...)Ergo-me de repente todos os Césares!

Vou definitivamente arrumar a mala.

Arre; hei de arrumá-la e fecha-la;

Hei de vê-la levar de aqui,

Hei de existir independentemente dela...”


Não, não! Meu ser não cabe neste cubículo industrial, nem meu espírito se alimenta de lixo; aprecia as matas, os bichos, as cores puras do pardal e, boas prosas com outros seres vivos.
Me valem agora as sábias palavras de Galego, o filósofo concebido em abaíra, plantas e fumaça;
“Faz o que tu queres Bacellar, não há nada que com muita vontade não se faça”.




Eli Bacellar, agosto de 14.