quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Vandalismo


Meu coração tem catedrais imensas,
Templos de priscas e longínquas datas,
Onde um nume de amor, em serenatas,
Canta a aleluia virginal das crenças.

Na ogiva fúlgida e nas colunatas
Vertem lustrais irradiações intensas
Cintilações de lâmpadas suspensas
E as ametistas e os florões e as pratas.

Como os velhos Templários medievais
Entrei um dia nessas catedrais
E nesses templos claros e risonhos ...


E erguendo os gládios e brandindo as hastas,
No desespero dos iconoclastas
Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos!


Augusto dos Anjos
(1884-1914)

A Um Gérmen













Começaste a existir, geléia crua,
E hás de crescer, no teu silêncio, tanto
Que, é natural, ainda algum dia, o pranto
Das tuas concreções plásmicas flua!

A água, em conjugação com a terra nua,
Vence o granito, deprimindo-o ... O espanto
Convulsiona os espíritos, e, entanto,
Teu desenvolvimento continua!

Antes, geléia humana, não progridas
E em retrogradações indefinidas,
Volvas à antiga inexistência calma!...

Antes o Nada, oh! gérmen, que ainda haveres
De atingir, como o gérmen de outros seres,
Ao supremo infortúnio de ser alma!

Augusto dos Anjos

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Ziguezagueando entre os meus eu`s





No momento presente, no agora, é meu desejo, escutar apenas a sinfonia da natureza, nada além do silêncio das vozes humanas. 


Ouvir o grilo tilintar um conselho sábio, de quem, todos os dias corta os ares nos matos, com seu mantra milenar.  


Respirar o vento úmido trazido pelos mares, sentir seu cheiro salgado, sinestesiar com meus sentidos, uma centena de percepções vagas. 


Refletir a cada instante, nas maravilhas de Deus, ziguezagueando entre os meus eu`s, a procura da resposta que insisti em se esconder nas reentrâncias de minha alma. 


Apelar na última instancia do tribunal celeste, defendendo o direito à resposta. 

Argumentar o mais ousado e confiante protesto, diante do júri dos santos, anjos e arcanjos, de que respiro, e se respiro, fui chamado a existir do nada. 


Finalizar, afirmando minha missão, e que necessito saber: Por que?

Novembro de 2011
Eli Bacellar