quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Assim falou Zaratustra - Da o que pensar ...


Noutros tempos a alma olhava o corpo com desprezo, e então nada havia superior a esse desdém; queria a alma um corpo fraco, horrível, consumido de fome! Julgava deste modo libertar−se dele e da terra. Ó! Essa mesma alma era uma alma fraca, horrível e consumida, e para ela era um deleite a crueldade! Irmãos meus, dizei−me: que diz o vosso corpo da vossa alma? Não é a vossa alma, pobreza, imundície e conformidade lastimosa? O homem é um rio turvo. E preciso ser um mar para, sem se toldar, receber um rio turvo. Pois bem; eu vos anuncio o Super−homem; é ele esse mar; nele se pode abismar o vosso grande menosprezo. 

Nietzsche em: Assim falou Zaratusta

O Gênio de A. Anjos em: O Ébrio




















O Ébrio

Bebi! Mas sei por que bebi!... Buscava
Em verdes nuanças de miragens, ver
Se nesta ânsia suprema de beber,
Achava a Glória que ninguém achava!

E todo o dia então eu me embriagava
- Novo Sileno, - em busca de ascender
A essa Babel fictícia do Prazer
Que procuravam e que eu procurava.

Trás de mim, na atra estrada que trilhei,
Quantos também, quantos também deixei,
Mas eu não contarei nunca a ninguém.

A ninguém nunca eu contarei a história
Dos que, como eu, foram buscar a Glória
E que, como eu, irão morrer também.


Augusto dos Anjos

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Homenagem de meu tio Pan, ao meu avô Belmiro. Em 29/05/1986


 Consta no livro de meu avô Belmiro Sampaio(Asperezas da Caminhada), que Deus o tenha, da ocasião do transcurso de seu cinquentenário de consagração à causa de Deus, a belíssima homenagem feita em versos pelo seu filho, Panreginaldo Sampaio.


Cinquenta anos de serviços gastos
-Oh Deus!... entre lutas e riscos,
Guiando o teu rebanho aos pastos,
Às fontes limpas e aos apriscos.

Nos pés – o pó da jornada vencida
Nas mãos – os calos do cajado anoso
Na mente – a certeza da missão cumprida
No coração – a gratidão ao Todo Poderoso

Vimos que não faltaste senhor – És fiel!
Tua presença tem sido constante
No apascentar diário de Teu Israel

Conserva-o operoso, óh Pai, tal como é,
Firma-lhe os pés e o conduz avante
Pois sabemos: O JUSTO VIVERÁ DA FÉ.



Panreginaldo Sampaio,
Salvador-Ba, 29/05/1986

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

A ante-sala interna


A ante-sala interna

Resignado à ante-sala de minha casa interior, vivi ali por séculos, crendo com fervor, ser pois, o todo de minha moradia introspecta.
Neste compartimento do qual a religião e os valores foram arquitetos, cresci internamente aprisionado, a uma parte de meu intelecto, neste espaço pequeno e singelo.
Empilhava ali dogmas, fé e temores de um cristianismo castrado, vendo Cristo com meus olhos embaçado, como uma miragem de deserto.
Caminhava então em círculos pelos quatro lados, tropeçando de continuo nos valores abarrotados, deste depósito, esta caverna.
Foi quando, numa dessas quedas, bati com força no oco da parede, donde me abriu um buraco deveras iluminado.
Com raiva, esmurrei a parede enfurecido, vendo sangue escorrer de meus punhos feridos, e uma ilustre mansão daquela fresta.
 Absorto num frisson agoniado, adentrei a casa em desespero. E Como era bela
Parei de súbito num jardim de inverno, com meus olhos entreabertos, vi-me qual Platão no mito da caverna; vivera de sombras por séculos.

 Bacellar Ell, Setembro de 2012