quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Bucólico

Este meu ser bucólico, tem ojeriza aos podres frutos das cidades; tange-me falas que pregam contra o anti-ócio. Quer, acima de tudo existir no campo, sem os malditos sons de sirenes, alardeadas pelos malditos "cops".
Vive-se aqui, em cadeias, olhando sempre por entre grades, são arames, câmeras, fotos; definitivamente odeio este Big Brother.
Odeio o som maligno das propagandas, e as criaturas que meneiam badeirolas, ao som de "jingles" pedem os meus votos. 
Ah! Quero mesmo correr deste marasmo, e me afastar ao máximo de seres ignóbeis, quero o campo com todas as estrelas, as constelações do cosmos longe das muralhas, do opróbio.
Não me conformo com nada deste presídio. O alimento, companhias, nem dos banhos de sol. Deus me fez livre, filho do vento com as estrelas, o som dos pintainhos no imenso arrebol.

Já dizia A. Campos:



“ (...)Ergo-me de repente todos os Césares!

Vou definitivamente arrumar a mala.

Arre; hei de arrumá-la e fecha-la;

Hei de vê-la levar de aqui,

Hei de existir independentemente dela...”


Não, não! Meu ser não cabe neste cubículo industrial, nem meu espírito se alimenta de lixo; aprecia as matas, os bichos, as cores puras do pardal e, boas prosas com outros seres vivos.
Me valem agora as sábias palavras de Galego, o filósofo concebido em abaíra, plantas e fumaça;
“Faz o que tu queres Bacellar, não há nada que com muita vontade não se faça”.




Eli Bacellar, agosto de 14.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Fábrica de reis


Abrigado em um quiosque, a ler Shakespeare na sementeira,
vi uma cena que me intrigou. Escrevi então, no fundo do livro:

Conduzidos por um comandante assaz hostil,
Os militares subalternos repetem ladainhas de terror,
Endurecendo suas servis com arrogância,
Humilhados pela “prepotência do mando”,
Concebem no interior obscuro de suas barrigas,
A silhueta altiva de pequenos tiranos.
Na ressignificação de suas almas,
Sobrepõe o que quer que lhes resta de calma,
Por irascíveis ordens de comando.

Eis o fim do raciocínio
A exclusão da dúvida
A morte da filosofia.


Eli Bacellar

terça-feira, 5 de agosto de 2014

A morte da convivência plena

A morte da convivência plena nasce com a banalização do verbo. Ora, se com soluços não te pulsa o diafragma golfando palavras, pra que usar os verbos? Por que:
 Duvidar que seu silêncio é sincero?
 Não perceber que o muito que se diz em palavras, despreza a paciência de ler energias e, ver gestos?
Não entender que a incerteza do medo humano, usa erroneamente a divindade do verbo e dos versos?

Que se cuide, pois, de expressar com palavras o que cabe à boca como verbo, e aos gestos o que cabe ao corpo em trejeitos, e à energia o que cabe ao espírito em pulsos.
Que pouco se misture e desperdice as palavras, pelo fim de tudo que há de falso, fingido e indigesto.
 ESBacellar