terça-feira, 16 de agosto de 2011

O malefício do amor-próprio e das preocupações com o futuro



(...) Em qualquer situação em que nos encontremos, é sempre por causa dele que ficamos infelizes [o amor próprio]. Quando ele se cala e a razão fala, esta enfim nos consola de todos os males que ele não pôde evitar. Ela inclusive os aniquila, enquanto não agirem de maneira imediata sobre nós, pois estaremos certos de evitar seus golpes mais pungentes deixando de nos preocupar com eles. Nada são para aquele que não pensa neles. As ofensas, as vinganças, os prejuízos, os ultrajes e as injustiças nada são para aquele que vê nos males que aguenta apenas o próprio mal e não a intenção, para aquele cujo lugar não depende, em sua própria estima, daquela que compraz aos outros conceder-lhe. 

Disse Jesus nas escrituras a respeito das preocupações com o dia de amanhã: “Basta a cada dia o seu mal” 

(...) Os pontos em que a verdadeira necessidade se faz sentir são sempre raros. A antecipação e a imaginação os multiplicam, e é através dessa continuidade de sentimentos que nos inquietamos e nos tornamos infelizes. Quanto a mim, por mais que saiba que sofrerei amanhã, basta não sofrer hoje para estar tranquilo. Não sou afetado pelo mal que antevejo, apenas por aquele que sinto, e isso o reduz a pouca coisa. 


Trechos retirados do livro: Devaneios do caminhante solitário de Jean-Jacques Rousseau.

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