terça-feira, 1 de maio de 2012

O martírio do artista - A. Anjos




Arte ingrata! E conquanto, em desalento,

A órbita elipsoidal dos olhos lhe arda,

Busca exteriorizar o pensamento

Que em suas fronetais células guarda!




Tarda-lhe a Idéia! A inspiração lhe tarda!

E ei-lo a tremer, rasga o papel, violento,

Como o soldado que rasgou a farda

No desespero do último momento!


Tenta chorar e os olhos sente enxutos!...

É como o paralítico que, á mingua

Da própria voz e na que ardente o lavra


Febre de em vão falar, com os dedos brutos

Para falar, puxa e repuxa a língua,

E não lhe vem á boca uma palavra!


Augusto dos Anjos 

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