segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Propício a nos tornar sábios, as loucuras que vemos sem compartilhar - ROUSSEAU

Mas considerai primeiro que, querendo formar o homem da natureza, não se trata por isso de fazer dele um selvagem e de regá-lo ao fundo de bosques, mas, envolvido em um turbilhão social, basta que ele não se deixe arrastar nem pelas paixões nem pelas opiniões dos homens; veja ele pelos olhos, sinta pelo seu coração, não o governe nenhuma autoridade, excerto a de sua própria razão. Nessa posição, é claro que a multidão de objetos que o impressionam, os frequentes sentimentos de que é afetado, os diversos meios de satisfazer suas necessidades reais devem dar-lhe muitas ideias que ele nunca teria, ou que teria adquirido mais lentamente. O progresso natural do espírito é acelerado, mas não invertido. O mesmo homem que deve permanecer estúpido nas florestas deve tornár-se razoável e sensato nas cidades, se permanecer como mero espectador. Nada é mais propício a nos tornar sábios do que as loucuras que vemos sem compartilhar, e aquele mesmo que as compartilha também se instrui, contanto que seja enganado por elas e não cometa o erro dos que as praticam. 



Jean-Jacques Rousseau em O Emílio ou da educação  

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